segunda-feira, 25 de junho de 2012

A incrível história das sete irmãs Sutherland e suas fartas melenas Leia mais em: A incrível história das sete irmãs Sutherland e suas fartas melenas.


Entre 100 a 150 anos atrás, os cabelos longos, dispostos em elegantes penteados, eram um atributo indispensável para a beleza feminina. Mas as irmãs Sutherland, que viviam em Lockport, ficaram famosas em todo o mundo por levar a concepção de cabelo comprido para um outro nível. O comprimento total do cabelo de todas as sete irmãs -Sarah, Victoria, Isabella, Grace, Naomi, Maria e Dora- chegava a incríveis 11 metros.

As irmãs Sutherland se tornaram grandes estrelas da época e amealharam uma grande fortuna somente exibindo os cabelos e fazendo dinheiro com publicidade, uma novidade que surgia no século 19. Só para terem uma ideia, elas superaram os ganhos do Barnum e Bailey Circus, onde se apresentaram pela primeira vez.
O mentiroso Barnum chamava-as de "sete maravilhas mais agradáveis do mundo". No final de 1800 elas eram umas das mais famosas celebridades mundiais. Sua presença no palco usando vestidos brancos, seus belos cabelos escuros e vozes melodiosas tornaram-nas milionárias, mas os seus gastos extravagantes subseqüentes fez com que ficassem pobres de novamente.




A música não era a atração principal. O clímax do show só acontecia no final, quando as irmãs juntas iam até a frente do palco e soltavam as volumosas melenas para a alegria dos espectadores. Um suspiro de assombro e deleite seguido por aplausos estrondosos. O show era um sucesso, mas era apenas o começo da saga das irmãs Sutherland, uma história mais bizarra do que qualquer outro escritor de ficção poderia imaginar.



As irmãs eram filhos de um conhecido charlatão, Fletcher Sutherland, e sua esposa Mary, uma estudante de música. Especulava-se que duas delas eram na verdade filhas de Martha, irmã de Maria, que também morava na casa dos Sutherland. Martha passou a cuidar das moças depois que sua irmã morreu em 1867.


Elas cresceram na pobreza e desprezadas pela sociedade burguesa local, mas tinham reconhecidamente dois talentos: o musical e os enormes cabelos, que segundo o folclore, foram reforçados em sua extensão e beleza com o uso de um creme de cheiro desagradável feito de sebo por sua mãe.



Suas habilidades musicais levaram Fletcher Sutherland a apresentar suas filhas para o mundo do circo, mas era o cabelo que os tornaria ricos, Naomi casou com J. Henry Bailey, sobrinho do co-proprietário do circo em 1885, e Bailey, sabendo que havia mais homens carecas do que amantes da música, assumiu a gestão do show das irmãs. Ele começou a vender o creme do cabelo, que Fletcher inventara a partir da fórmula de sua falecida esposa, usando as irmãs Sutherland como suas ferramentas promocionais.


Os produtos Sutherland Sisters' Hair Grower -xampus e cremes de limpeza do couro cabeludo, poções anti-caspa e para os cabelos- venderam milhões, e as irmãs começaram a ostentar construindo uma mansão vitoriana com sete quartos, todos com banheiros decorados em mármore de carrara. O dinheiro corria como a água e parecia amplificar as excentricidades da família. Animais foram tratados como realeza, com funerais e obituários nos jornais locais. Seus cavalos usavam ferradura de ouro. As irmãs viviam fazendo festas de gala, muitas vezes incluindo fogos de artifício.



Todo esse dinheiro nas mãos de um grupo de mulheres solteiras atraiu aventureiros, lógico. Um deles foi Fredrick Castlemaine, que deu primeiro um "bote" em Dora, mas que surpreendeu a todos ao se casar com Isabella. Ele tinha 27 anos, ela 40.


Castlemaine era bonitão e charmoso, mas tinha lá suas excentricidades próprias, como vício em ópio e morfina além da mania de fotografar os raios de rodas de carruagens de seu assento no alpendre Sutherlands. Em 1897, enquanto acompanhava as irmãs em um de seus passeios, Castlemaine cometeu suicídio.


Tragédias como essa e a morte precoce de uma das irmãs, Naomi, pareceu perturbar demais as mulheres. O corpo de Naomi permaneceu na salão principal da mansão por algumas semanas, enquanto aguardavam a construção de um mausoléu de 30 mil dólares. Mas ao final enterraram Naomi no jazigo da família.



Quando Frederico morreu, seu corpo permaneceu também no salão durante várias semanas, não embalsamado, em um caixão de vidro em formato de cúpula. As irmãs sentavam-se em volta do defunto e cantavam suas músicas favoritas. Finalmente, o departamento de saúde local interveio e obrigou as irmãs relutantes em remover o corpo para um mausoléu de granito. Mesmo assim,Isabella caminhava 5 quilômetros toda noite para ir ao cemitério, carregando uma lanterna, para comungar com o marido perdido. Isso durou dois anos, até que ela conheceu e se casou com Alonzo Swain, ela tinha 46 anos, ele 30.



Swain convenceu Isabella a vender suas ações na empresa da família e a se juntar a ele na tentativa malfadada de vender um restaurador de cabelos concorrentes, cuja fórmula continha nove litros de rum Inglês e dois litros de álcool. O empreendimento fracassou, Isabella morreu como indigente e Alonzo desapareceu.



As experiências de sua irmã com Castlemaine e Swain não impediu Victoria Sutherland de se casar com um homem de 19 anos de idade, quando ela tinha 50 anos. Isso provocou um racha dentro da família e as outras irmãs, que nunca se casaram, se recusaram a visitar Victoria até que ela estava em seu leito de morte.


As demais foram perseguidas por outras formas de infortúnio. Maria teve períodos de loucura, e sempre ficava trancada em seu quarto. A popularidade dos penteados mais curtos para as mulheres terminaram de vez com o sucesso do cultivador de cabelo, e a mina de ouro das irmãs secou. Em 1926, as três irmãs sobreviventes foram a Hollywood para ajudar um estúdio a fazer um filme sobre suas vidas, mas o projeto foi cancelado, e Dora, morreu em um acidente de carro nesta viagem. Ela foi cremada em Hollywood, mas Maria e Grace não tinham sequer dinheiro para pagar os serviços funerários, assim as cinzas Dora ainda estão em Hollywood, à espera de pretendentes.



As últimas duas irmãs voltaram para sua mansão decadente e viveram na mais profunda miséria que tinha marcado o início de suas vidas. Eventualmente, até mesmo a casa foi vendida. Alguns anos após a morte da irmã sobrevivente final, a mansão queimou até o chão, deixando apenas o grandioso mausoléu Castlemaine e, talvez, alguns vidros empoeiradas do Sutherland Sisters' Hair Grower nos sótãos e porões para contar sua história.







O verdadeiro Coração Valente não foi Wiliam Wallace




Graças a Coração Valente, ganhador do Oscar de Melhor filme, dirigido, produzido e protagonizado magistralmente por Mel Gibson, todos conhecemos o herói nacional escocês William Wallace. O filme, com abundantes licenças artísticas e algumas referências históricas, baseia-se no poema épico "The Actes and Deidis of the Illustre and Vallyeant Campioun Schir William Wallace" [ufa!] escrito por Blind Harry ao redor de 1470 e que posteriormente foi popularizado com a adaptação do poeta William Hamilton em 1722.
Do William Wallace histórico sabemos que foi um plebeu com certa educação, que se sublevou contra a ocupação inglesa, derrotando-os em 1297 na batalha da Ponte de Stirling -quando morreu Andrew Moray, outro herói que lutou junto a William Wallace desde o princípio e que não é lembrado pelo filme-, que no ano seguinte seria derrotado por Eduardo I na batalha de Falkirk e que depois de regressar da França foi capturado e esquartejado. Fim do Wallace histórico e do filme. E aqui, quando termina o filme, começa a lenda do verdadeiro Coração Valente, Robert Bruce.




Após uma guerrilha contra os ingleses e depois de ter-se coroado rei da Escócia como Robert I, liderou os escoceses para derrotar Eduardo II na batalha de Bannockburn em 1314. A vitória da Escócia foi completa e, ainda que o pleno reconhecimento da independência da Escócia não foi reconhecida até 1328 com a assinatura do Tratado de Edimburgo-Northampton, a posição de Robert Bruce como rei se reforçou.

Mas de pouco adiantou, pouco tempo conseguiu desfrutar de tão precioso tesouro, um ano mais tarde falecia. Em seu leito de morte, não se sabe se como penitência por todos seus pecados ou por não ter cumprido seu desejo de lutar em uma cruzada, obrigou Sir James Douglas a jurar que no momento que morresse arrancaria seu coração e o levasse à Terra Santa.

Enquanto o corpo de Robert Bruce era enterrado na abadia de Dunfermline (em 1818 seu corpo foi exumado e descobriram que tinha as costelas serradas), Douglas, junto a outros cavaleiros, partia para a Terra Santa… com o coração guardado dentro de um recipiente de chumbo e amarrado a uma corrente. Lamentavelmente, pelo juramento feito, só conseguiram chegar até a península ibérica onde participaram de uma cruzada em Teba.

A superioridade dos muçulmanos e o desconhecimento de suas táticas de ataque surpreenderam os escoceses. Em um momento da batalha James Douglas viu-se rodeado pelo inimigo e, ante sua iminente morte, apanhou a corrente que prendia o recipiente com o coração e o lançou ao mesmo tempo que gritava:
"Adiante coração valente, eu te seguirei ou morrerei".
O corpo de Douglas e o coração de Robert foram repatriados a Escócia para ser enterrados. O coração de Robert foi enterrado na abadia de Melrose.





Em 1921, durante as escavações na mesma abadia, encontraram um recipiente de chumbo de forma cônica, mas voltaram a enterrá-lo. Em 1996, desenterraram de novo e a Historic Scottiano disse que "era difícil determinar se era ou não o coração de Robert Bruce". Já em 22 de junho de 1998, enterraram de novo no mesmo lugar e desde então descansa em paz até que outro historiador abelhudo resolva novamente escavar o local.

Dois dias depois, durante o aniversário da vitória de Bruce em Bannockburn, o Secretário de Estado da Escócia descobriu uma talha de um coração entrelaçado com a Cruz de San Andrés no lugar onde o coração foi enterrado, no qual é possível ler:
"Um coração nobre não pode estar em paz se carece de liberdade."




segunda-feira, 11 de junho de 2012

FRANKENSTEIN DE MARY SHELLEY



Mary Shelley, desafiada a escrever um conto sombrio e fantasmagórico, deu vida a um cientista e sua criatura, sua obsessão, seus sentimentos e escolhas, ações tão complexas cujas conseqüências arrastariam com ele - num turbilhão de angústia, morte, consciência, vingança e dor - todos os ideais, a moral e os seres que mais amara.
Victor Frankenstein era jovem, acreditava na ciência e no progresso. Ah, a ciência, o moderno Prometheus do título buscando o fogo sagrado do conhecimento, desejoso de “roubar” o dom de criar a vida. Era curioso, ousado, não teve medo, não teve pudor e, obcecado por sua experiência, rompeu limites enquanto sonhava a imortalidade para o homem. Victor Frankenstein desejava vencer a morte.
“Eu seria o primeiro a romper os laços entre a vida e a morte, fazendo jorrar uma nova luz nas trevas do mundo (...). Ressurreição! Sim, isso seria nada menos que o poder de ressurreição.”
E ele o fez. Criou a vida a partir de matéria morta. Mas ao conseguir, se revelou fraco, amoral e medroso. Ao criar a vida e com ela, uma das criaturas mais comoventes e sombrias da literatura universal, simplesmente fugiu. A criatura, que posteriormente seria conhecida pelo nome do seu criador, não trouxe consigo a beleza, e justamente essa ausência do belo a tornaria horrenda aos olhos dos homens, uma presença do “feio” que despertava reações de agressão e perseguições. No entanto, era sensível, sofria, aprendeu sozinha as lições que o mundo lhe deu.
“Eis que, terminada minha escultura viva, esvaía-se a beleza que eu sonhara, e eu tinha diante dos olhos um ser que me enchia de terror e repulsa.”
O “monstro” gigantesco e horrendo, apresenta-se de forma complexa, alternando comportamentos de mais pura bondade e desejo de aceitação para, com a rejeição da sociedade, desenvolver um comportamento cruel e vingativo.
"(...) ferido pelas pedras e toda sorte de objetos, que me arremessavam, fugi para o campo aberto e, cheio de medo, busquei refúgio numa cabana acachapada."
Assim como Victor, que ora nos convence e até comove a ponto de ter a simpatia do leitor, por vezes nos enerva e causa revolta, a criatura nos assombra, nos enche de melancolia e espanto. Estes dois personagens não são planos, Mary Shelley os fez de forma que podem nos levar a sentimentos opostos em poucas linhas.
"Também eu posso criar desolação! O que me fizeram com a vida, pago com a morte. Meu inimigo não é invulnerável. Esta morte há de causar-lhe desespero, e mil outras desgraças o atormentarão até destruí-lo."
Criador e criatura, quem seria de fato o monstro? Não posso negar que me fiz essa pergunta algumas vezes durante a leitura.
Em relação à estrutura narrativa, o texto apresenta trechos muito descritivos em certos momentos, principalmente nas descrições de paisagens. Mesmo reconhecendo o interessante recurso de inter-relacionar os sentimentos dos personagens com a paisagem, torna-se cansativo.
Já o foco narrativo é multiplo, com predomínio do gênero epistolar foi um recurso muito bem aproveitado pela autora. A narrativa epistolar não afasta o leitor, ao contrário, em vários momentos o narrador alterna-se, Walton é o narrador testemunha, mas ele transfere esse papel narrativo a Victor e, posteriormente, em um dos momentos mais comoventes do livro, à própria criatura. Finalmente, Walton retoma o foco narrativo, mas é esse recurso que permite à história ser contada dentro de outra e vários pontos de vista serem expostos.
Ler Frankenstein é rever o sonho da imortalidade, questionar o poder e o alcance da ciência, o preço do conhecimento e a as conseqüências de se romper com o que chamamos de ética e moral para a humanidade. É testar o sombrio e o absurdo, a piedade e o inesperado.
Mas é também uma história de buscas, de superação, de conhecimento, de vencer a solidão. Uma narrativa para se comover, se revoltar, se emocionar. Porque é literatura, e literatura não precisa ser racional, precisa apenas inquietar e isso, Frankenstein de Mary Shelley o faz muito bem.
Título Original: Frankenstein or the Modern Prometheus


http://www.youtube.com/watch?v=Lg17y6iz7Xs