segunda-feira, 11 de junho de 2012

FRANKENSTEIN DE MARY SHELLEY



Mary Shelley, desafiada a escrever um conto sombrio e fantasmagórico, deu vida a um cientista e sua criatura, sua obsessão, seus sentimentos e escolhas, ações tão complexas cujas conseqüências arrastariam com ele - num turbilhão de angústia, morte, consciência, vingança e dor - todos os ideais, a moral e os seres que mais amara.
Victor Frankenstein era jovem, acreditava na ciência e no progresso. Ah, a ciência, o moderno Prometheus do título buscando o fogo sagrado do conhecimento, desejoso de “roubar” o dom de criar a vida. Era curioso, ousado, não teve medo, não teve pudor e, obcecado por sua experiência, rompeu limites enquanto sonhava a imortalidade para o homem. Victor Frankenstein desejava vencer a morte.
“Eu seria o primeiro a romper os laços entre a vida e a morte, fazendo jorrar uma nova luz nas trevas do mundo (...). Ressurreição! Sim, isso seria nada menos que o poder de ressurreição.”
E ele o fez. Criou a vida a partir de matéria morta. Mas ao conseguir, se revelou fraco, amoral e medroso. Ao criar a vida e com ela, uma das criaturas mais comoventes e sombrias da literatura universal, simplesmente fugiu. A criatura, que posteriormente seria conhecida pelo nome do seu criador, não trouxe consigo a beleza, e justamente essa ausência do belo a tornaria horrenda aos olhos dos homens, uma presença do “feio” que despertava reações de agressão e perseguições. No entanto, era sensível, sofria, aprendeu sozinha as lições que o mundo lhe deu.
“Eis que, terminada minha escultura viva, esvaía-se a beleza que eu sonhara, e eu tinha diante dos olhos um ser que me enchia de terror e repulsa.”
O “monstro” gigantesco e horrendo, apresenta-se de forma complexa, alternando comportamentos de mais pura bondade e desejo de aceitação para, com a rejeição da sociedade, desenvolver um comportamento cruel e vingativo.
"(...) ferido pelas pedras e toda sorte de objetos, que me arremessavam, fugi para o campo aberto e, cheio de medo, busquei refúgio numa cabana acachapada."
Assim como Victor, que ora nos convence e até comove a ponto de ter a simpatia do leitor, por vezes nos enerva e causa revolta, a criatura nos assombra, nos enche de melancolia e espanto. Estes dois personagens não são planos, Mary Shelley os fez de forma que podem nos levar a sentimentos opostos em poucas linhas.
"Também eu posso criar desolação! O que me fizeram com a vida, pago com a morte. Meu inimigo não é invulnerável. Esta morte há de causar-lhe desespero, e mil outras desgraças o atormentarão até destruí-lo."
Criador e criatura, quem seria de fato o monstro? Não posso negar que me fiz essa pergunta algumas vezes durante a leitura.
Em relação à estrutura narrativa, o texto apresenta trechos muito descritivos em certos momentos, principalmente nas descrições de paisagens. Mesmo reconhecendo o interessante recurso de inter-relacionar os sentimentos dos personagens com a paisagem, torna-se cansativo.
Já o foco narrativo é multiplo, com predomínio do gênero epistolar foi um recurso muito bem aproveitado pela autora. A narrativa epistolar não afasta o leitor, ao contrário, em vários momentos o narrador alterna-se, Walton é o narrador testemunha, mas ele transfere esse papel narrativo a Victor e, posteriormente, em um dos momentos mais comoventes do livro, à própria criatura. Finalmente, Walton retoma o foco narrativo, mas é esse recurso que permite à história ser contada dentro de outra e vários pontos de vista serem expostos.
Ler Frankenstein é rever o sonho da imortalidade, questionar o poder e o alcance da ciência, o preço do conhecimento e a as conseqüências de se romper com o que chamamos de ética e moral para a humanidade. É testar o sombrio e o absurdo, a piedade e o inesperado.
Mas é também uma história de buscas, de superação, de conhecimento, de vencer a solidão. Uma narrativa para se comover, se revoltar, se emocionar. Porque é literatura, e literatura não precisa ser racional, precisa apenas inquietar e isso, Frankenstein de Mary Shelley o faz muito bem.
Título Original: Frankenstein or the Modern Prometheus


http://www.youtube.com/watch?v=Lg17y6iz7Xs

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